Seis Sigma atrasa a inovação da indústria
Padronização é importante, linha de produção não é lugar para improviso, mas existe um limite para o que pode ser roteirizado.
"Success is about evolution, change is healthy. I like to reinvent myself” - Faith Hill
Six Sigma é uma metodologia que se popularizou em 1980, na época muito focada em chão de fábrica, seu objetivo é tornar as operações mais eficientes, reduzir ou eliminar variações no produto e eliminar defeitos nos processos.
Para manter um processo contínuo de melhoria, as ferramentas e técnicas Seis Sigma oferecem aos líderes de negócios uma abordagem baseada em dados para tomada de decisão. O objetivo é claro e simples de entender, encontrar defeitos de produção e impedi-los de acontecer. Um benefício extremamente valioso, além de comprovadamente reduzir custos e melhorar a produtividade.
No entanto, existe um efeito colateral da aplicação da metodologia Seis Sigma que poucos percebem, quando mais forte é a cultura corporativa na busca constantemente maneiras de ser melhor, maior e mais forte, a inovação é provavelmente negligenciada.
Os padrões são importantes e a linha de produção não é lugar para improviso, mas existe um limite para o que pode ser roteirizado. A padronização se torna tóxica quando os aficionados por conformidade ignoram ou não compreendem esses limites.
Ao promover um ambiente de inovação, o líder abrirá espaço para a criatividade, exploração de hipóteses, testes e na grande maioria das vezes o horizonte é curto e não se tem visibilidade e clareza dos ganhos. Eles são descobertos ao longo do caminho que deve ser percorrido com liberdade para errar.
Ao longo dos anos trabalhando com inovação para a indústria percebo que existem sim casos de sucesso onde a inovação caminha em conjunto a metodologia Seis Sigma, mas a maior parte das indústrias sofre com o impacto da padronização excessiva na busca pela excelência.
E fica claro que a diferença está na ordem de chegada ou na priorização. Se a metodologia é aplicada quando a indústria já tem estabelecida a cultura de inovação, as ferramentas se apoiam e se complementam, caso contrário a metodologia se transforma na base da cultura e passa a ser o mecanismo que impede a inovação.
Um estudo feito por Brian Hindo, conta a história da 3M e como a aplicação da metodologia Seis Sigma prejudicou a capacidade criativa da companhia. James McNerney havia acabado de chegar na empresa em 2001 para ser o novo CEO, ele tinha deixado a GE mas levou consigo os aprendizados de Jack Welch que havia implementado com sucesso a prática.
Com os dados da eficiência em mãos Jack contou para o mundo os resultados obtidos e foi um dos grandes responsáveis pela popularização da técnica. Sob a nova liderança, cada projeto de pesquisa da 3M tinha que ser documentado em um "livro vermelho". Dezenas de gráficos e tabelas eram necessários, detalhando tudo, desde aplicações comerciais em potencial até o tamanho exato do mercado e possíveis preocupações de fabricação.
Uma prática oposta ao que vemos em ambientes com eficiência de inovação. Neste ambiente, as icônicas "postit" amarelinhas jamais teriam nascido. Tanto a metodologia Seis Sigma quanto as práticas de inovação são necessárias para o sucesso sustentável do negócio, o problema é focar apenas no processo, na eficiência e no custo, porque isso tudo não é garantia de longevidade.
Num cenário positivo de colaboração o Seis Sigma pode ser utilizado para alavancar a liberdade criativa monitorando a agenda que move a cultura toda da empresa, mas nunca se apropriando dela.
Um abraço e até a próxima semana! be fearless,
Texto publicado originalmente na coluna 5’ no Futuro da revista Época Negócio. Para ver outros conteúdos acesse este link.
Sobre a autora
Monica Magalhaes é empreendedora, palestrante e educadora. É especialista em inovação disruptiva e transformação digital.
Contato: hello@shelovesfuture.com.