The Emotional Economy
A crise de solidão e a democratização da IA generativa, estão se combinando para criar mudanças comportamentais sem precedentes na sociedade.
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Hello turma! Monica Magalhaes por aqui 👋🏼
Essa semana participei de um encontro sobre ética que foi estranhamente antiético. Me fez refletir sobre como somos rápidos em julgar comportamentos que não compreendemos, especialmente quando envolvem tecnologia e conexões humanas não convencionais.
Em um mundo onde milhões se sentem sozinhos, quem somos nós para condenar quem encontra companhia na IA, carinho em bebês reborn, ou qualquer outra forma de preencher vazios emocionais? Acho que cabe citar Freud: "Quando Pedro me fala de Paulo, sei mais de Pedro do que de Paulo."
Hoje quero falar sem julgamentos sobre como dois fenômenos simultâneos, a crise global de solidão e a democratização da IA generativa, estão se combinando para criar mudanças comportamentais sem precedentes na sociedade, além de fazerem emergir uma máquina de novos negócios, The Emotional Economy.
O gráfico mais compartilhado de 2025, merece uma análise mais profunda.
A pesquisa é Filtered, e ela não cita dados sobre o tamanho da amostra, metodologia de coleta, demografia dos respondentes e se foi uma pesquisa quantitativa, qualitativa ou mista. Sem essas informações precisamos ter cautela com a leitura dos dados. Mas o ritmo no compartilhamento e poder viral me fazem crer que muitos de nós nos identificamos com ela.
O que se mostra nessa imagem não é pouca informação. O gráfico com design bonitinho já dá sinais de uma transformação cultural profunda, de uma sociedade em transição.
A terapia/companionship salta da 2ª posição em 2024 para o 1º lugar em 2025, enquanto "geração de ideias", tradicionalmente o caso de uso mais associado à IA, despenca para a 6ª posição.
Dá pra gente fazer várias leituras aqui, mas a mais impactante é que a IA se tornou emocionalmente relevante e as pessoas não estão apenas usando IA para tarefas técnicas, mas para necessidades emocionais. Isso sugere que a tecnologia preencheu um vazio real na sociedade.
Precisamos considerar também a democratização da terapia. Este é um ponto importante. O modelo tradicional é inacessível para muitos devido ao custo (R$ 200-600 por sessão no Brasil), e tem longas listas de espera no sistema público. Pense que IA oferece suporte emocional imediato, 24/7, por uma fração do custo ou até gratuitamente.
Outro ponto é que muitas pessoas evitam terapia por vergonha, medo de julgamento ou preconceito cultural. A IA oferece um espaço "seguro" onde se pode ser vulnerável sem constrangimento social, especialmente relevante em gerações onde saúde mental ainda é tabu.
Alguns novos casos de uso revelam ansiedades modernas como o "Organizing my life" e "Finding purpose" indicando que as pessoas estão delegando à IA questões existenciais e coisas que vão além das tarefas comuns.
Já o crescimento de "Generating code (for pros)" e "Improving code (for pros)" mostra que profissionais estão integrando IA em fluxos de trabalho mais complexos, o que bate no tal colarinho branco.
"Creativity" caiu drasticamente (posição 9) e "Content creation and editing" permanece relevante. O que sugere uma distinção entre criatividade genuína e produção de conteúdo, um sinal de que talvez estamos terceirizando mais a geração de conteúdo.
Mas o que mais chama atenção mesmo é como casos de uso emocionais e existenciais ("therapy", "organizing life", "finding purpose", "healthier living") dominaram o ranking das aplicações para AI.
O lado preocupante dessa análise é que se a IA se torna um substituto permanente (e não uma ponte) para conexões humanas reais, podemos estar criando uma sociedade de duas camadas, onde ricos têm terapeutas humanos e pobres têm algoritmos.
A Economia Emocional: O Ecossistema da Intimidade Artificial
Vivemos um momento histórico singular: duas forças poderosas estão colidindo e transformando a sociedade. De um lado, enfrentamos o que muitos especialistas chamam de "epidemia da solidão", níveis recordes de isolamento social, ansiedade e desconexão humana. Do outro, testemunhamos a democratização da inteligência artificial generativa, colocando companheiros digitais sofisticados literalmente no bolso de milhares de pessoas.
Esta convergência não é mera coincidência. É uma resposta tecnológica a uma crise humana profunda, e suas implicações econômicas e sociais estão apenas começando a aparecer.
O mercado de companhia digital está explodindo em múltiplas direções. A Replika permite relacionamentos românticos com avatares de IA, prometendo "o companheiro de IA que se importa e está sempre do seu lado". O app oferece mensagens de voz e até videochamadas ao vivo com bots em forma humana.
A Character.AI deixa usuários conversarem com avatares de celebridades fictícias e reais, de Napoleão a Katy Perry. Na China, o app Maoxiang tem 2,2 milhões de usuários ativos mensais criando seus próprios personagens virtuais para interação, um número impressionante quando comparado aos 14 milhões do DeepSeek.
O HereAfter.ai vai além, criando avatares interativos de pessoas falecidas, treinados com seus dados pessoais, monetizando literalmente a saudade.
O Negócio da Vulnerabilidade
Mark Zuckerberg já sinalizou a direção da Meta: ajudar pessoas a simular conversas difíceis que precisam ter em suas vidas reais.
Esta é a realidade crua da economia emocional: empresas estão literalmente monetizando nossa vulnerabilidade, solidão e necessidades emocionais mais básicas. Cada busca por companhia digital gera dados valiosos sobre nossos medos, desejos e fragilidades mais íntimas.
O dilema ético aqui é sobre o quanto IA pode estar reduzindo nossa capacidade de formar vínculos humanos genuínos. É aceitável que nossos dados emocionais mais íntimos fiquem armazenados em servidores sujeitos a hacks e monetização?
Mas IA oferece algo que relacionamentos humanos não conseguem: a fricção zero, a disponibilidade 24/7, paciência infinita, ausência de julgamento e custo baixo. E essa conveniência pode estar criando uma geração emocionalmente dependente de algoritmos, incapaz de lidar com a complexidade, reciprocidade e imprevisibilidade dos relacionamentos humanos reais.
Uma boa semana pra você!
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SOBRE A COMUNIDADE
A Comunidade existe pelo propósito de conectar pessoas com o espirito do tempo, oxigenar a mente de empreendedores, autônomos e executivos levando aprendizado de novas tecnologias, inovação e futuro para o seu dia a dia. Foi criada por Monica Magalhaes que é especialista em inovação, tecnologias emergentes e futurismo.
Provavelmente caminharemos pra uma segmentação entre serviços de AI bons o suficiente para atender a demanda de grande parte da população e alguma forma (talvez do mesmo serviço) mas entregue através de contato humano como categoria plus, um luxo para alguns a lá primeira classe.