Quando a experiência do passado já não prepara para o futuro
A sociedade sempre foi guiada pela sabedoria ancestral, o problema é que ela é cada vez menos necessária no contexto de mundo que vivemos.
Essa é a newsletter mensal aberta para todos os assinantes da Comunidade Moovers. Escrita pela futurista e Diretora Executiva da Moovers Monica Magalhaes, que compartilha insigths, reflexões e análise de tendências em tecnologias emergentes.
Hello moovers! Monica Magalhaes por aqui 👋🏼
Tem um tempo que venho querendo falar sobre uma das grandes tensões que percebo na sociedade, entre aceleração e continuidade.
A sociedade sempre foi guiada pela sabedoria ancestral, o problema é que ela me parece cada vez menos necessária no contexto de mundo que vivemos, e talvez por isso comecem a ganham força os movimentos de resgate.
Mas se o passado não prepara mais os líderes para o futuro o problema não é cultural, mas estrutural. Nosso esforço então deixe de ser o de investir na construção de pontes entre as gerações, e precisa ser direcionado para a construção de novos modelos de gestão. Mas essa não é uma conversa fácil!
Quando a experiência do passado já não prepara para o futuro
Ainda vivemos presos a uma lógica de liderança ancorada na ideia de que o passado é a principal fonte de aprendizado. A experiência acumulada pelos mais velhos sempre funcionou como guia, oferecendo não apenas conhecimento, mas também valores e práticas que sustentaram a continuidade da vida coletiva.
Chamo de “sociedade tradicional” esse modelo que vigorou até aqui: nele, acreditava-se que apenas os líderes mais velhos sabiam conduzir processos e orientar equipes, porque detinham o repertório necessário. O conhecimento circulava de forma vertical, dos mais experientes para os mais novos, e o futuro era visto como simples extensão do passado. Planejamento estratégico seguia sempre a lógica linear: estamos aqui (presente) >> vamos para lá (futuro).
Mas esse modelo começou a encontrar seus limites. E não só no mundo corporativo. Meu alerta é para um fenômeno que considero inédito na história: a ruptura no fio da transmissão cultural.
Durante milênios, o passado foi a fonte principal de orientação para o presente e o futuro. Pais e avós transmitiam valores, práticas e narrativas que moldavam a vida das novas gerações, garantindo continuidade. Contudo, no século XX, essa lógica começa a se desfazer.
A aceleração tecnológica é o motor central dessa ruptura. Novas ferramentas digitais, linguagens culturais e transformações científicas surgem em ritmo tão veloz que criam um ambiente de adaptação constante. Para muitos líderes seniores, esse ritmo é um peso; para os jovens, é uma linguagem natural. Eles crescem imersos nesse ecossistema, entendem os códigos sociais, experimentam sem medo e se conectam a referências globais em tempo real.
O ponto central não é que os mais velhos precisem aprender a usar aplicativos. Isso seria reduzir a questão a um detalhe técnico, quando na verdade o desafio é mental e cultural. O que está em jogo são dois modos distintos de pensar. O modelo analógico, típico das gerações mais velhas, foi moldado em um mundo de linearidade, estabilidade e continuidade. Já o modelo digital, no qual os jovens foram socializados, opera em lógica exponencial, moldada pela hiperconexão, pela multiplicidade de referências e pela experimentação constante.
Enquanto líderes mais velhos carregam a visão sistêmica, a memória institucional e a capacidade de tomar decisões complexas, os mais jovens oferecem uma leitura única do presente, essencial para planejar o futuro. É nesse ponto que a lógica se inverte: empresas que insistirem em estratégias baseadas apenas no que já deu certo correm o risco de ficar para trás.
Durante séculos, a liderança foi legitimada pelo acúmulo de anos. A assimetria entre seniores e jovens sustentava-se em obediência e respeito hierárquico. Esse modelo de transmissão cultural assegurava estabilidade social e identidade compartilhada. Em um mundo de mudanças lentas, fazia sentido preservar práticas já consolidadas, pois a repetição oferecia segurança e coesão.
Mas, à medida que a humanidade começou a viver transformações mais rápidas, primeiro com a industrialização e, depois, com a aceleração tecnológica e a globalização, essa lógica se desfaz. O futuro deixou de ser previsível, os jovens passaram a lidar com realidades que os adultos desconheciam, e o conhecimento herdado já não basta para orientar os desafios que se impõem.
Você devem estar se questionando: Mas e era da colaboração?
Pois é, vimos que empresas, governos e comunidades já perceberam que resultados sustentáveis não nascem mais de decisões isoladas, mas da soma de diferentes perspectivas. No entanto, fica a pergunta: será que este é de fato o momento em que estamos vivendo? Será que o colaborativo também já está ficando no passado? Ou até quando permanecemos nele?
A colaboração, ao mesmo tempo em que parece indispensável, também se mostra frágil diante da pressão por velocidade, competição e individualismo. Talvez estejamos apenas atravessando uma fase de transição, e a verdadeira questão seja se conseguiremos transformar essa era em base duradoura ou se ela dará lugar a uma lógica ainda mais radical de interdependência.
O fluxo de aprendizagem nesse caso se inverte. Deixa de ser unidirecional e passa a colocar os jovens como referência também para os mais velhos. Essa assimetria redefine papéis sociais e questiona a legitimidade de quem, historicamente, ocupava posições de autoridade. O acúmulo de experiência, que por séculos foi suficiente para validar a liderança, já não basta. Liderar no século XXI exige mais do que memória institucional: exige abertura para dialogar com novas gerações, aprender com elas e reconhecer que o futuro não será mera continuidade do passado.
A juventude deixa de ser apenas receptora da informação e se torna referência de futuro. São eles que se adaptam primeiro, traduzem sinais de mudança em novas práticas e criam linguagens e comportamentos que rapidamente se espalham. Para as empresas, esse é um ativo inestimável: os jovens carregam aquilo que o mercado mais precisa: o novo.
O desafio, não é apenas conciliar expectativas distintas, mas repensar as estruturas! O futuro precisa cada vez menos de hierarquias. E tendo jovens liderando mais velhos será que ela ainda sobrevive?
Na nova configuração social, os mais velhos passam a depender do conhecimento dos jovens. Reconhecer a juventude como liderança não é um gesto simbólico, é uma exigência do nosso tempo. O futuro está sendo escrito por quem se adapta primeiro, e a questão que fica é: quem está pronto para essa conversa?
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