Precisamos de melhores futuristas
O bom futurista precisa conseguir humanizar aquilo que imagina.
Essa é a newsletter mensal aberta para todos os assinantes da Comunidade Moovers. Escrita pela futurista e Diretora Executiva da Moovers Monica Magalhaes, que compartilha insigths, reflexões e análise de tendências em tecnologias emergentes.
Hello moovers! Monica Magalhaes por aqui 👋🏼
Há dias estou imersa na finalização do meu livro. Escolhi fazer como os Incas e os Maias fizeram. Me isolar, pesquisar, ler, prototipar e curtir o processo.
Mas é tanta informação que temos disponível hoje que mesmo eu fico saturada de futuro. Previsões, relatórios de tendências, rankings de inovação, gráficos que fazem projeções sobre o amanhã.
E me pergunto, se temos tanta informação sobre o futuro porque não estamos conseguindo construir algo melhor? Tudo isso se misturou com ruído cotidiano. E o futuro se tornou um produto.
Ao longo do meu processo de pesquisa, preciso ler dezenas e dezenas de coisas pra conseguir encontrar algo profundo, tangível.
Reflito que não falta futuro pra gente imaginar. Mas existe uma diferença entre falar sobre o futuro e pensar o futuro. Falar sobre o futuro é discursar sobre tudo que cruza nosso caminho, mudanças, inovações, tendências, tecnologias emergentes. Pensar futuro é um exercício muito mais autoral e profundo.
Para um futuro melhor, precisamos de melhores futuristas
Essa semana me deparei com um ótimo artigo do futurista Nick Foster, que trouxe essa provocação. Mas o que é ser um “melhor futurista”?
Vamos pensar juntos.
Primeiro de tudo, o que um futurista não é! Não é uma pessoa que preve com mais precisão. Dizer que acertou alguma coisa quer dizer no máximo que você tem bons palpites ou é uma pessoa bem informada.
Num mundo cercado por dados, gráficos e onde AI reina, fica fácil projetar cenários pra muitas coisas, mas poucos conseguem expandir o campo de visão e pensar com profundidade
Também não é um futurista alguém que replica aquilo que aprende sem acrescentar nada com sua própria visão.
É fácil ver isso acontecer quando chega uma nova tecnologia por exemplo. Junto com ela vem uma revolução que gera muito assunto e isso é ótimo. Mas sempre temos um problema na qualidade dessas conversas, não dá pra ir longe sem profundidade.
Para desenhar um futuro melhor, precisamos de melhores futuristas e isso significa melhorar a forma como pensamos, não apenas o que prevemos.
O bom futurista não entrega respostas, mas provoca perguntas que ajudam a reorganizar o pensamento. Acima de tudo penso que o bom futurista precisa conseguir humanizar aquilo que imagina.
Alguém capaz de escutar os sinais fracos no momento presente que atravessam o que chamados de ruído, consegue conectar o que parece desconexo e ilumina aquilo que ainda não tem definição.
Um bom futurista entende que a imaginação é necessária mas que ela feita com responsabilidade porque prever é também propor, uma vez que cada narrativa que criamos sobre o futuro molda decisões e comportamentos no presente. E o futurista tem muito poder de influência.
Qual é o seu drive?
O bom futurista precisa saber qual é o seu drive. O que te inspira a falar de futuro ou o que te move nesta direção.
Vejo futuristas que são inspirados por preocupações sociais e ambientais, e o seu desejo de mudar o futuro que vê é o seu drive. Outros, estão mais interessados em metodologias, são movidos pelo interesse de serem mais assertivos em suas prospectivas de futuro, tem menos interesse em de fato influenciar alguma mudança e estão mais preocupados em divulgar suas técnicas de foresight. Existe ainda uma linha de futuristas mais narcisista que são apaixonados pela sua própria intelectualidade e criam questões mais filosóficas sobre o futuro. Uns focam mais em futuros possíveis, em prováveis e outros em seus futuros preferidos. O que te move como futurista?
Não é uma resposta simples.
É muita energia fluindo em Future Studies. Festivais, eventos, grupos de estudo, artigos, livros, cursos. Fico na dúvida se essas pessoas compreendem que trabalhar com futuro não é de fato sobre “o futuro”, mas uma real competência de conhecer profundamente o hoje.
O papel do design de pensamento
Projetar o futuro começa por tentar fazer esboços desses pensamentos. Antes de desenhar novos produtos, modelos de negócio ou tecnologias, é preciso reconfigurar a forma como pensamos mudança. O design, nesse sentido, é mais do que só uma estética de rabiscos que depois se tornam imagens instagramáveis mas ele é necessário pois se torna uma ferramenta cognitiva. Ele nos obriga a imaginar, testar, prototipar, é pensar com as mãos. Essa é uma habilidade que poucos dominam. Demora anos pra desenvolver e adaptar ao seu território de pesquisa. Demora anos pra construir repertório e aprender quais são os gatilhos que ativam as sinapses dos seus neurônios.
É muito difícil para o bom futurista criar algo bom sozinho e apenas escrevendo seus achados. A colaboração junto com o design é essencial para pensar o futuro, pois é desenhando que damos forma àquilo que ainda não existe, de maneira consciente e intencional.
As habilidades de um bom futurista são uma combinação de visão sistêmica, empatia, narrativa e experimentação.
Líderes com esses skills são também bons futuristas. Mas eles precisam ter repertório das ideias que vão propor e conseguir ampliar contextos que incluem ou cruzam com códigos culturais, sociais e éticos. E acaba que nem todo lider tem interesse nessas bordas mais generalistas de conhecimento.
Educando para o futuro
A maioria das pessoas ainda é treinada para reagir, não para imaginar. Elas investem em inovação, mas raramente em futures literacy, a alfabetização de futuros. Falam sobre disrupção, mas continuam operando com a mentalidade de eficiência industrial: controlar, prever, otimizar.
Pra ser um líder futurista precisa saber equilibrar urgência, propósito, dados, intuição e imaginação.
Precisa desenvolver inteligência temporal: a capacidade de perceber quando agir, quando esperar, e quando simplesmente observar os sinais, porque ainda é muito cedo pra falar de coisas que a sociedade ainda não está preparada.
Essa inteligência é rara porque exige algo que a lógica corporativa não valoriza: a pausa. O espaço para refletir antes de reagir. O silêncio entre o estímulo e a resposta.
É nessa brecha que o pensamento de longo prazo floresce. Pra pensar futuro precisa pensar em consequências, desdobramentos, impactos, ou seja lá o nome que você quer dar pra aquilo que ainda vai acontecer.
Futurismo como consciência
E pra concluir, pensar o futuro não é um exercício de previsão, pelo contrário é preciso ter muita consciência. O futuro é o espelho do que pensamos, desejamos e tememos hoje.
Precisamos de pensadores mais lucidos, questionadores.
Gente que tenha coragem de desacelerar enquanto o restante da sociedade se encontra no caos da aceleração. Mentes capazes de enxergar não o que vem depois, mas o que vem junto.
O maior trabalho do futurista é nem é criar ideias para o amanhã, mas futurista bom consegue aumentar a sensibilidade das pessoas que influencia hoje, no presente.
let’s keep moving,
Community Learning
Nossa Comunidade de aprendizagem em future skills oferece a curadoria, o pertencimento e o afeto que é uma resposta à crise da educação tradicional. A educação aqui é eficiente e acontece de forma horizontal, afetiva e relacional. Venha fazer parte!