Paradoxo do poder, quanto maior, menor será a empatia
Líderes disruptivos - O poder requer modéstia e empatia, não força e coerção. Mas a realidade é que vemos líderes perdendo a inteligência emocional com o aumento do poder.
Reflexões da semana, por Monica Magalhaes.
“The best way to find yourself is to lose yourself in the service of others.” Mahatma Gandhi
Navegando pelas notícias no twitter na semana passada me deparei com vários artigos anunciando o fim do programa de Ellen DeGeneres qual comandou por 19 anos. A apresentadora no ano passado em meio a pandemia, foi acusada de liderar um ambiente tóxico de trabalho. Várias acusações de racismo, assédio moral e intimidação. Nem todas as acusações a indicavam diretamente, muitas críticas estavam ligadas a seus gestores, porém todos liderados por ela. Após denúncias ficou claro que mudanças deveriam ser feitas, alguns erros foram reconhecidos publicamente e o programa continuou. Mas daquele momento em diante os dias de Ellen estavam contados, levando muitos a refletirem sobre o que podemos aprender com o caso Ellen DeGeneres e o risco real de perdermos a empatia com o aumento do poder.
O poder torna as pessoas menos empáticas
Todos que estão dentro de uma organização, independente da posição, precisam ser pessoas agradáveis de se trabalhar. Num ambiente saudável nos sentimos seguras e capazes de discordar e desafiar umas às outras. Tratar os outros com respeito e consideração deve ser um requisito básico para os chefes e também para as pessoas que eles gerenciam. E isso é algo que devemos nos lembrar sempre que subirmos um degrau na escada das hierarquias. Parece ser simples, mas a realidade mostra que o poder tende a nos tornar mais envolvidos com nós mesmos e menos empáticos com os outros. “Quando você se sente poderoso, tende a se afastar das outras pessoas”, conta o psicólogo Dacher Keltner, da Universidade da Califórnia neste video onde explica a mudança física que acontece no nosso cérebro com o aumento do poder, nos tornando menos empáticos :(
“Você para de prestar atenção ao que as outras pessoas pensam.” Dacher Keltner
Dacher, conta em seu livro The Power Paradox o que leva as pessoas a perderem as qualidades que podem tê-las ajudado a ganhar espaço e serem promovidas. “As habilidades mais importantes para obter poder e liderar com eficácia são as mesmas habilidades que se deterioram quando temos o poder”.
Viver a experiência de liderança exige vigilância constante das influências corruptas do poder e sua capacidade de mudar a maneira como tratamos os outros e principalmente perceber que aos poucos distorcemos nossa própria imagem.
Precisamos lembrar também que existe a percepção de poder dos liderados, que acreditam em mitos sobre o comportamento do bom líder e se inspiram em discursos distorcidos sobre liderança, confundindo palavras grosseiras com visão de poder. Escolhemos líderes errados quando não nos baseamos na inteligência social e emocional. Lideres que combinam meia dúzia de palavras fortes com frases aprendidas em livros de autoajuda não deveriam inspirar ninguém, mas atitudes humanas sim.
Sinais de um ambiente tóxico
Essa semana o papa da liderança Adam Grant postou no seu twitter alguns exemplos para identificarmos líderes e ambientes tóxicos.
Sinal 1 - Frases como “work hard, play hard” que indicam algo na cultura do tipo “aqui a gente trabalha pra caramba mas também se diverte” Alerta, a mensagem por traz pode ser “trabalhe 90 horas e teremos um happy hour depois”
Sinal 2 - “somos obcecados pelo cliente” sem problemas, desde que sejam também centrados nos colaboradores!
Sinal 3 - “não trabalhamos remotamente” questione por qual motivo. Apenas para entender se a cultura não estabelece confiança.
Sinal 4 - “só contratamos vencedores” Uma pena, pois para vencer é preciso antes falhar algumas vezes, quão aberto estão aos erros?
Todos praticamos o poder em algum momento com alguém
Na psicologia, existem duas formas de se definir o poder. Ou pela capacidade de alterar a condição ou estado de espírito de alguém fornecendo ou retendo recursos (como comida, dinheiro, conhecimento ou afeto) ou administrando punições, como dano físico, rescisão do trabalho ou aplicando no outro o ostracismo social.
A verdade é que quando as pessoas tentam controlar as outras, é um sinal de que seu poder está diminuindo. Essa definição complica nossa compreensão do poder.
O poder não é algo limitado a indivíduos ou organizações, ele faz parte de cada interação social onde as pessoas têm a capacidade de influenciar os estados umas das outras. Estamos negociando o poder a cada instante de nossa vida. Quando buscamos igualdade, buscamos um equilíbrio de poder, não a sua ausência. Ser humano é estar imerso nesta dinâmica, e o líder disruptivo compreende essa nova psicologia do poder.
Reflexão: Perceber o paradoxo
Aprender sobre esse paradoxo e todos os comportamentos destrutivos que dele decorrem é uma excelente reflexão. Nos ajuda a construir novos modelos de liderança, uma nova visão de um líder inspirador não por medo mas por expor suas emoções e sentimentos como fragilidade e vulnerabilidade. À medida que desmascaramos esses mitos e concepções errôneas sobre o poder, conseguimos identificar melhor as qualidades das pessoas verdadeiramente poderosas e que estão relacionadas a inteligência emocional e social. Como resultado, teremos muito menos tolerância com pessoas que lideram por medo, coerção ou força indevida e casos como o da apresentadora Ellen DeGeneres serão cada vez mais denunciados.
Não vamos mais tolerar comportamentos como estes em nossos líderes e silenciosamente aceitá-los quando acontecerem. E também exigir posicionamento dos outros amigos colaboradores. Essa é a importância de debatermos o uso responsável do poder e como pratica-lo de forma responsável e socialmente inteligente criando ambientes mais saudáveis dentro das organizações.
Dica de conteúdo da semana
Esse é um tema vasto. Compartilho aqui a série de artigos que li para compilar e criar esse conteúdo, mas deixo cada um deles na integra aqui para quem deseja se aprofundar mais no tema:
5’ no Futuro - last week
Se ainda não conseguiu abrir o último email com o conteúdo da semana passada, falamos sobre: Infocalipse Now! A evolução da mídia sintética. Um assunto fascinante e ao mesmo tempo assustador.
Uma ótima semana pra você e até a próxima 2-feira ;)
be fearless,
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