Aceleração digital na pandemia
Temos visto que um dos pontos positivos da pandemia é o impacto na aceleração da transformação digital, mas o que na prática isso quer…
Temos visto que um dos pontos positivos da pandemia é o impacto na aceleração da transformação digital, mas o que na prática isso quer dizer?
Realmente está acontecendo, mas vamos entender melhor o que de fato mudou e trazer uma perspectiva mais realista pro tamanho dessa transformação digital.
Toda essa aceleração digital são de ações que já aconteciam dentro das organizações só que eram iniciativas pequenas e tímidas e como Silvio Meira chamou de “gambiarras digitais”.
Quando o isolamento se tornou uma realidade para as empresas, muitas tiveram que tomar decisões rapidamente, o que eu chamo de sprint da pandemia. Todos tivemos que criar nossos comitês de crise e tomar decisões de questões que antes não faziam parte de uma agenda prioritária.
O trabalho remoto ou home office, por exemplo, era utilizado pela grande maioria muito mais para uma jornada extra de trabalho, seja a noite ou no final de semana, diferente do que estamos vendo agora em que o colaborador precisa ter uma agenda organizada de trabalho online.
O trabalho remoto requer um planejamento e uma estrutura e muitas vezes sistemas em nuvem por exemplo. As empresas tiveram que criar políticas de segurança num curto espaço de tempo, planejar ações, contratar serviços, colher aceites e assinaturas, etc. Esse legado ficará quando a pandemia acabar. Temos uma organização necessária agora para que as coisas funcionem de forma virtual.
Outra ação que era tímida nas empresas é a presença online. Seja na venda ou no relacionamento com seus clientes.
Muitas tinham canais online muito mais como uma presença obrigatória e institucional do que uma estratégia agressiva de venda. No contexto de lojas fechadas, os canais online se tornam as únicas alternativas de venda e relacionamento com seus consumidores e os canais internamente, assim como os projetos passaram a receber maior atenção e recursos e o resultado dessa aceleração será a consolidação da presença online dessas empresas.
Mas vejam, não estamos falando de uma transformação digital tão agressiva. Às vezes pela quantidade de informação que vemos repetidamente nas redes sociais e nas mídias, pode dar a impressão que vamos nos tornar um país super digitalizado, mas o que vai acontecer é que o gap digital das empresas e brasileiros em geral vai diminuir por causa de todas essas ações que estão sendo feitas.
Havia um espaço muito grande. Estávamos ainda muito físicos. Nossa capacidade digital era muito pequena e agora vai ser um pouco maior.
Mesmo no ecommerce esses números contam a história. Só pra termos uma referência do que estou dizendo, o ecommerce brasileiro faturou no ano passado algo próximo a R$ 70bi. Ele cresce a cada ano. Cresceu 22% no último ano, mas ainda assim, isso corresponde a apenas 5% do valor do varejo brasileiro. No mercado americano, que não é o maior do mundo, a venda online representou 16% da fatia do varejo no ano passado.
Então a gente tinha muito espaço, nosso varejo é muito físico, por isso que quando a gente olha para os números a gente entende que não vai ter uma mudança do físico pro digital nunca, o que vai acontecer é que esse gap vai diminuir e vamos nos tornar um pouco mais digitais.
E não estamos falando apenas das empresas. Nós brasileiros ainda somos também muito analógicos. Talvez somos muito digitalizados para as redes sociais mas ainda temos um enorme espaço para explorar de skills digitais. Um exemplo agora, quando o governo anunciou a ajuda emergencial nesta quarentena nós vimos filas imensas nas casas lotéricas e bancos para realizar um cadastramento que estava disponível online e era muito simples de ser feito.
Acredito que teremos no final da quarentena um resultado positivo da transformação digital, e ele será um pouco mais de equilíbrio entre o físico e o virtual e aprendizado digital.
Explorando cenários futuros
Agora vamos falar de um futuro mais interessante!
O trabalho remoto vai colaborar muito para mudanças significativas de comportamento, nas relações de trabalho, na organização dos espaços, nos eventos e nas viagens.
Tanto o empregado quanto o empregador experimentaram um modelo novo de trabalho, ambos os personagens nesse momento estão refletindo e fazendo as comparações entre o formato de trabalho no escritório e o home office, questionamentos sobre a produtividade, tempo, trânsito, custos, esse com certeza vai ser o maior alavancador de mudanças.
As viagens corporativas que representam hoje uma boa fatia no transporte aéreo devem sofrer o impacto já que as empresas puderam validar neste período de isolamento que é possível fazer muita coisa remotamente. Além do mais importante, que é reduzir o custo das despesas internas.
Veremos também uma mudança no business de eventos corporativos, que no Brasil é um negócio gigantesco. Eventos já enfrentavam desafios de sustentabilidade, alimentação e higiene, agora terão ainda o desafio do custo e distanciamento. Estamos experimentando congressos online neste momento e está sendo muito interessante. Acredito que mesmo quando a quarentena acabar vamos continuar no modo low touch e os eventos online poderão ser uma opção interessante para os organizadores.